Carica / Cartoon

A caricatura costumava ser mais ácida. Assim como a malandragem de um Pernalonga ou Pica-Pau era visto de forma pueril e pode ser considerado nocivo pelos mais extremistas, o exagero nas caracteristicas fisicas de uma pessoa pode ser considerado ofensivo. Eu não tenho esse nariz ou Não parece comigo são comentários provaveis. Todos querem sair bem na foto, como dizem.

A caricatura está ligada, sem dúvida, a um senso de humor. Humor no sentido de algo engraçado, que traga descontração. Neste sentido, provocar um amigo ofendendo traz comicidade. A caricatura deveria operar numa mesma linha, a pessoa reconhecer-se e rir de si mesma. Amigos chamam-se de trouxa, vacilão, ou outras coisas afins. É um exagero da personalidade, comportamento ou situação.

Herman Lima no seu tratado sobre o tema - 20 anos para ser concluído, dizem - descrevia a figura de um demônio com asas de morcego, chifre, etc. como caricatura de uma figura angelical, com asas alvas de um pássaro, aureola, etc. Tal conceito hoje em dia merecia ser revisto, já que caricaturados não aceitam ver ressaltados seus defeitos em caricatura.

O policiamento de certo humor politicamente correto, que impede certo escracho - lembro de fotos de Henfil simulando serrar o próprio filho, hoje em dia conselho tutelar nele - ou casos como a Casa dos Autistas da MTV ilustra engessamento. Negros não podem ter beiços largos por exemplo - imagem corriqueira nos 70 e 80. E beiçudo é sinal de beleza - vide a star Angelina Jolie.

O que percebe-se é que retratados gostariam de virar desenhos animados, não caricaturas. Personagens empáticos, bonitinhos. Pica-pau como bicho de pelúcia é fofo.

( Texto redigido alguns anos atrás ).

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